Holocausto Android

O anúncio da compra da Motorola Mobility pela Google por US$12,5 bilhões nesta segunda-feira 15 de agosto, foi uma das principais notícias da semana, motivando muitos comentários e especulações sobre os motivos e intenções da gigante das buscas e criadora do Android, mas dificilmente acredito que conseguirão evitar o mesmo destino do Symbian, da Nokia.

Primeiro, por que criar um sistema para smartphones? O negócio da Google não é desenvolver sistema operacional para smartphones, nunca foi. Nem resolveram desenvolver um sistema operacional só porque amam os freetards, mesmo porque não estão nem aí para o futuro do software livre. O motivo porém é simples: smartphones e outros dispositivos móveis como os tablets estão cada vez mais presentes e muito em breve devem ultrapassar o número de PCs, e simplesmente a gigante das buscas não quer ficar de fora. Para continuar na frente, inclusive nesse novo mercado, precisa levar sua busca até esses novos aparelhos, ou alguém o fará, e a Google não quer que outros sistemas tenham a liberdade de definir qual será a busca padrão. A RIM, fabricante do Blackberry por exemplo, escolheu o Bing da Microsoft.

Para não ter a dor de cabeça de produzir os equipamentos e ao mesmo tempo ter o sistema instalado no maior número possível de aparelhos, resolveram licenciar o Android para fabricantes como Motorola, Samsung, LG, HTC, etc… (por sua vez, a adoção do Android pelos fabricantes de aparelhos é outro tiro no pé, mas eles não tinham saída senão postergar o problema, mas esse é outro assunto….)

Mas por que comprar a Motorola? O que a Google não contava era a guerra de patentes iniciada pela Microsoft e Apple contra os fabricantes de aparelhos que usam o Android. Alias, a Microsoft já ganhou mais dinheiro com o Android do que com seu próprio sistema para smartphones, o Windows Phone 7, só cobrando royalties!

O que tem sido comentado desde o anúncio, é que a Google está comprando a Motorola apenas para comprar o portfolio de patentes e com isso ficar “blindada” contra as ações de Apple, Microsoft & cia.

O que a Google não esperava mesmo era que a própria Motorola, fabricante de smartphones Android e desesperada com a queda recente nas vendas, iniciasse um batalha judicial contra outros fabricantes de smartphones Android, justamente usando seu grande portfolio de patentes para cobrar royalties! Ou seja, a Motorola poderia semear a discórdia total entre os fabricantes de smartphones Android, inviabilizando completamente o projeto da Google.

A Google está sim se protegendo de futuras ações judiciais, mas está principalmente evitando um “holocausto Android”. E nesse ponto eu preciso confessar, Carl Icahn é um gênio!

E o que será que vem por aí? Suponhamos que a Google consiga evitar o holocausto Android com a compra da Motorola. Mesmo dizendo que não vai interferir na Motorola e tratar igualmente e imparcialmente todos os outros fabricantes que licenciam o Android, será que vai mesmo? E mesmo que trate, será que os outros fabricantes vão acreditar?

Particularmente acho pouco provável que a Motorola continue sendo apenas um fabricante de smartphones Android como qualquer outro, sem nenhum tratamento preferencial e isso certamente acabará diminuindo a adoção do Android por outros fabricantes. No final, a Motorola acabará como o único fabricante relevante de smartphones Android e talvez seja mais fácil que a Google incorpore toda operação da Motorola Mobility, confirmando o modelo de sucesso da Apple que os freetards tanto reclamam.

Seria ruim? Não, pois poderíamos ter uma grande empresa competind com a Apple e todos nós consumidores sairíamos ganhando. Mas esse certamente seria um péssimo cenário para a Google porque estaria competindo em uma área que ela não domina, aliás que outra área ela domina além de busca e email?

Outro ponto importante é que Motorola e Google são duas corporações com culturas completamente diferentes e conciliar isso não será nada fácil. Muitas empresas grandes quebram nesse tipo de fusão.

Porém o mais importante e mais relevante é que a Google estaria falhando com seu objetivo de levar sua busca, sem intermediários, ao maior número possível de dispositivos móveis.